26.5.11

Desampara a loja (com meiguice)

In http://betoefofs.files.wordpress.com/2010/05/mala.jpg
Com jeitinho, para não doer. Vais ver que, com o jeito amanteigado, as coisas desagradáveis passam por anestésicos.
Há um dia em que a impaciência solta fervura. Um dia com as cores embrulhadas umas nas outras, uma caótica paleta de insuportáveis ruídos, as palavras atropelando-se por causa da voracidade com que são ditas. Os gestos saem envenenados. As manobras, insidiosas como o são as manobras montadas no joelho da perfídia, montam-se num xadrez de latrina.
Enquanto a lucidez anda arredia, podes cantar a opereta desengonçada naqueles lugares onde te amparam a comiseração, ou nos lugares onde é conveniente terçar as mágoas contra a silhueta do diabo em pessoa. Guarda a pessoal coutada onde gravitam, porventura acéfalos, os que abençoam as narrativas sem contraditório. Às malvas o ror de pecadilhos que por aqui coabitam. São meus haveres. Assim como assim, se aprouvesse fertilizar um ego incomensurável que, consta, é o meu, seria devido o sobressalto íntimo pela batelada de malvadezas de que venho acusado.
Já não interessa. Vomita para dentro as aleivosias atiradas para o meu regaço. A bílis interior já me chega, não preciso de ajudantes para condensar essa purulenta substância que azeda a existência. Não percas a embalagem e faz outro favor: mete os pés ao caminho e afina a bússola para o lado oposto. Se quiseres, passo a mão no pêlo, em festinhas indulgentes, só para congraçar feridas por cicatrizar. Dispenso que atires dardos afiados ao dorso, que me não são estranhas as dores do mundo e, em particular, as que vierem assestadas por estratégias congeminadas em surdina.
Vá lá, pisa noutro chão. Não te percas em confabulações estéreis, não vás ganhar calosidades de tanto bater na mesma, encardida tecla. Naquela tecla que há muito deixou de produzir som. Eis um favor em teu proveito: declara-te à decência. Se o não fizeres, a ausente lucidez nem te deixa discernir tristes figuras a reboque. O viço do despeito é o forno que cresta a bondade intrínseca que é teu apanágio. Não queremos que a bondade intrínseca se desaloje e ceda o passo ao seu contrário. Deixa a malvadez por minha conta que – por demais sabido é – já não há remissão de arcanjo algum.
Digo com imenso carinho: deita fora os pincéis e as tintas onde cozinhas essa tela enegrecida. Arranja outra. Não pares de desenhar. Mas começa de uma tela em branco. Com outras tintas, de outras cores mais garridas que sobressaiam das algemas mentais por onde transitas. Arrecada da maresia, e das imensas ajudas que te ajudam à pessoal localização, o fio de prumo. A hibernação no casulo, onde atrás da aparência de tanto arejamento sobejam uns corredores acanhados, é um golpe nessa auto-estima que queremos perenemente luminosa. Não exibas os maus fígados e as inverdades que confundes com fantasias (ou as fantasias que se fundem em inverdades, já nem sei). Coze com fio grosso as alimárias que te consomem. Mergulha-as no sítio fétido onde as alistaste.
E, se não conseguires a sério, ao menos faz de conta que sou uma projecção do imaginário. Eu não existo. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo talento em escrever.