10.3.11

Who cares?


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Era de pena que o imberbe das emoções andava à procura. A pele tisnada pelos sobressaltos que amordaçavam o sorriso. Olhos entristecidos, madraços, envolvidos numa espuma que decantava as lágrimas que se vertiam para o interior das pálpebras. Chorava no amplexo das dores que o maceravam por dentro. E nem os olhares lânguidos da rapariga sentada no banco da frente do metro desatavam um esgar sequer que contrariasse o luto profundo que o trazia pelas vielas sombrias.
Esmagava nos outros a sua melancolia. A ira servida num cálice fervente. Projectada contra os que se cruzavam nas ruas molhadas pela chuva tempestuosa. Inocentes da sua raiva interior, era como se fossem os culpados pelos pesares que extinguiam do rosto o sinal da sobriedade.
Todos os dias acordava imerso no cansaço próprio dos dias já entregues nos braços do ocaso. As manhãs eram repulsivas, a candeia que anunciava um dia interminável para lamentar as angústias herdadas dos arrependimentos. Por mais que olhasse para o poço onde vagueiam, desordenadas, as recordações, não encontrava um resto que derrotasse a tristeza irremediável. Covardemente, esbofeteava com um rosto fechado os que lhe eram próximos e os estranhos nas ruas. Teimava nos modos rudes, nas palavras secas, na antipatia que cavalgava no dorso do rosto cerrado. Os olhos encovados eram inexpressivos, como se por dentro deles houvesse apenas uma paisagem árctica, preenchida por um branco medonho. Uma irascível forma de ser. A autarcia de si.
O isolamento desmanchava brechas no padecimento quando expunha as cicatrizes. Por mais que quisesse ser uma ilha, ostentava as cicatrizes dos sofrimentos. Por mais que quisesse que os outros, estranhos ou pessoas do seu conhecimento, vegetassem na indiferença, queria mostrar as suas consumições. Pedinte de comiseração. Os tormentos que eram apenas seus deviam ser colectivizados. Apesar de querer ser uma ilha coriácea, fechada a sete chaves à curiosidade estranha, ao ser mostruário da melancolia era fautor da sua própria devassa.
O mal era a indiferença dos que nem sequer davam conta da sua presença. A angústia trepava os contrafortes da dor, amordaçando o rosto. A angústia transformava-se nas algemas que deixavam o rosto mergulhado numa expressão de apatia. A apatia que motivava indiferença nos demais, mergulhando-o num adormecimento pungente. Não percebia os sintomas de si mesmo. Ora uma pulsão arrebatadora que o tornava ilha empedernida, como se as pessoas todas em seu redor fossem avatares da indiferença. Ora mendicidade da piedade alheia, imperativo mostrar os padecimentos interiores. A pena mostrada pelos outros aplacava a melancolia corrosiva – acreditava.
A ambiguidade destronava o que julgava ser um altar onde proclamava a coerência impecável. Afinal, o mal não era exterior a si. Radicava nas profundezas do rapaz imberbe. Porventura, da sua inexperiência. Porventura, da devastadora inteligência em que se debatia. Ou talvez nada disto fosse o retrato fidedigno. E fossem espelhos paralelos a obturar a lucidez. Em camadas sucessivas, umas em cima das outras, a miopia tomando conta do olhar com que filtrava as coisas em redor.
Mas ninguém, absolutamente ninguém, se importava.

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