15.3.11

A adorável fauna da burguesia socialista


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Olho para estes socialistas assoberbados pelo estertor final do mais lamentável governo de que há memória desde que a democracia regressou. E interrogo-me se não deviam abdicar da palavra “socialismo”. Devia haver uma comissão de utilização fidedigna das palavras que impedisse a apropriação abusiva de termos consagrados quando a sua prática anda nos antípodas das ideias. Assim como assim, não foi o (deles) patriarca Soares que enfiou o socialismo na gaveta?
Pela noite em véspera de fim-de-semana, um senhor ministro desce a rua dos Clérigos e entra num afamado restaurante em zona nobre da vida nocturna da cidade. Um restaurante só frequentado por gente endinheirada e por arrivistas sociais. Pela pose altiva e pelos olhos como radares à cata de todos os quadrantes, dir-se-ia que a pausa à entrada do restaurante pimpão era convite para ser visto a lá entrar. Os ministros merecem pertencer ao escol dos privilegiados. É a paga pelas muitas noites mal dormidas açambarcadas pelo terrível peso de domar os destinos da pátria.
O catedrático arquitecto que, vereador, pisa os calos ao edil instalado, reclama uma grande coligação das esquerdas nas próximas eleições. Para destronar “a direita”, a “direita dos interesses” (que, presume-se, as esquerdas não os têm, interesses; só causas, e muito nobres). Um esboço de frentismo de esquerdas – pois, noutro “assim como assim”, a proximidade genética devia destruir os muros que separam as esquerdas todas. E, todavia, quem vir o catedrático arquitecto não o ajuramenta com a malta empenhada em defender os interesses dos trabalhadores eternamente oprimidos. Que nisto dos bens materiais fala sempre mais alto o utilitarismo esmaltado pelas reluzentes notas que estacionam na conta bancária. Olha para o que eu digo, não ouses olhar para o que eu faço.
Se há palco enternecedor é aquele em que a canga socialista de diversas idades e feitios se chega ao conforto da ostentação, à frequência dos mesmos lugares dos queques enraizados. Fico embevecido ao dar de caras com socialistas que, vê-se à distância, são queques encartados. Desfilam todos os tiques do arrivismo social e os preconceitos de casta. E, todavia, quem os ouve nota uma pesporrente retórica social avantajada, pondo-se em bicos dos pés na sua suposta superioridade moral. Gostava de os ver menos atreitos à frequência de lugares que vão e vêm com os modismos. De os ver despojados dos hábitos burgueses.
Estes aburguesados socialistas deviam ter a franqueza de falarem como se comportam. Ao menos não se emprestavam à esquizofrenia de quem não diz coisa a bater certo com os pessoais hábitos de vida. Fica-lhes mal quando a sua bota não condiz com a perdigota. Logo a eles, que têm a mania de serem tutores da mais elevada superioridade moral (o que para mim, arredio de qualquer moralidade, é de arregalar os olhos).
Não sei se esta propensão para andar de braço dado com a fina flor do socialite explica que o criativo governo tenha subido o IVA dos ginásios de 6% para 23% e queira descer o IVA pago pelos praticantes de golfe (essa gente tão miserável) de 23% para 6%. Socialismo dos ricos, é o que é. 

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