23.6.10

Coquetes de Cascais


In http://fabiolascully.files.wordpress.com/2008/10/crocodilo_agua_salgada1.jpg
Umas bravas senhoras da linha de Cascais querem que a “direita” arranje um candidato presidencial diferente do actual inquilino (em que, supõe-se, votaram com entusiasmo). Não lhe perdoam que tenha deixado passar a lei que agora autoriza o casamento entre homossexuais. É um ultraje aos “valores” da família – da família tradicional, como a conhecemos, um casal de sexos opostos e a prole adjacente. (Já agora: e se um casal de heterossexuais se casa e decide não procriar; já não é uma família tradicional?)
Há pecados imperdoáveis – sentenciam as madames da linha de Cascais, com o ámen da santa igreja que aparece na sombra a abençoar a ideia. Quando é o próprio presidente que a “direita” elegeu que dá o braço a torcer a uma boutade (dizem elas) das esquerdas provocadoras, só resta à direita conservadora, com o rabo de saia preso às sacristias das igrejas todas, não dar o beneplácito ao inquilino do palácio de Belém. Se ele quer continuar a ser presidente, que vá angariar votos aos esquerdalhos com quem se amigou.
Uma breve nota politóloga antes do resto da querela: é comovente como a direita conservadora aprendeu a táctica do harakiri que tem notabilizado as esquerdas. Às madames saídas do chá das cinco, enquanto se tratam umas às outras por “tia” e dão o corpo (salvo seja) pela santa igreja que veneram, ainda não foi dado a entender o seguinte: se arranjarem um Bagão Félix qualquer lá pelas faldas do bafiento catolicismo, não só fazem a cama a Cavaco (“mas isso é bem feito”, pensam com os seus botões de marca) como dão um contributo inestimável para a presidência cair no regaço do poeta tauromáquico.
No meio da desorientação geral, farto-me de rir ao ver a indignação das madames. E, acima de tudo, como elas praticam um dos mandamentos católicos que as deviam nortear: a capacidade de perdoar. Está visto que é finita, muito limitada, a capacidade de perdoar das madames da linha de Cascais. Eu cá não lhes perdoo por me levarem a escrever um texto que me coloca ao lado do desastrado Cavaco. Sendo de direita, quando vejo estes espécimes da direita conservadora apetece-me fugir a sete pés para um dos quartos onde esteja uma qualquer esquerda (o que é, contudo, uma impossibilidade genética).
E rio-me ainda mais, porque ninguém me convence que isto não tem o dedo abençoado dos bispos pensantes. São uns politólogos de primeira água. Uns portentos de estratégia. Só podem ter ensandecido. Então não é que querem testar a força eleitoral da igreja? Se vier aí um Bagão Félix qualquer, que outra leitura senão medir a influência da igreja católica através dos votos recolhidos por esse candidato? Os senhores bispos têm mesmo a certeza que é isto que querem? Eu cá não apostava. Assim como assim, vai uma crise danada lá pela igreja (“audiências” em queda nos cultos; menos jovens dispostos a abraçarem o sacerdócio), que ainda arriscam uma crise existencial.
A gargalhada suprema seria esta: o tal Bagão Félix, ou um seu sucedâneo, a dividir os votos da “direita”. Cavaco a não conseguir ganhar à primeira volta. E, na segunda volta, o candidato poeta tauromáquico acabava por arrebatar a presidência. A maior das gargalhadas: a direita de sacristia a oferecer a presidência ao laico poeta; e este a ter que agradecer os préstimos da improvável aliada, a santa igreja.
No dia seguinte, as madames da linha de Cascais nem sequer as mágoas podiam afogar com os consortes. Não tenho nada a ver com isso, mas não deixo de mandar o palpite: é que as tias da linha de Cascais devem ter uma vida sexual tão desinteressante (“oh, que acto tão nojento!”), que não é por aí que afogam tristezas. 

2 comentários:

Milu disse...

As gentes muito ligadas à igreja costumam ser as mais pecaminosas, embora julguem que enganam os outros, fazendo-se passar por gente intocável. Era eu uma jovem mulher, quando um acólito de Deus, ou lá o que era aquele merdoso, um daqueles que andam constantemente na igreja a ensinar o missal, ainda por cima casado, abordou-me com uma conversa que me deixou de rastos e com um sentimento de culpa que me atormentou durante algum tempo, embora agora me custe a compreender como naqueles inusitados instantes pude ser acometida por tão grande fragilidade. Pois aquele energúmeno fez-me o convite para que eu fosse sua amante, aliciando-me com promessas de índoles diversas. Ainda hoje não me perdoo por não ter reagido convenientemente e à altura daquela situação, porque em vez de lhe estampar umas lambadas naquelas "fuças" e atirar com ele ao chão pisando-o como se pisa um insecto, ali fiquei muda, dominada pela vergonha e por um estranho e incómodo sentimento que me levou a pensar que a culpa era minha, julgando com os meus botões, que alguma coisa em mim, no fundo, teria contribuído para o tresmalho daquela santa alma, tão crente no misericordioso Deus. Senti-me, ao fim e ao cabo, como uma verdadeira descendente de Eva. Foi o que foi!
Durante uns dias nada disto disse a alguém, mas foi coisa que nunca abandonou o meu pensamento, porque embora aquele indivíduo não fosse padre, para mim era como se fosse, na medida em que também ele de missal nas mãos pregava a moral, que afinal ele próprio não tinha. Um dia ganhei coragem e tartamudiei umas pequenas referências deste caso à minha mãe, mas, contrariamente ao que eu esperava, ela reagiu com grande calma e disse-me para não dar importância ao assunto, até porque já havia ouvido uma outra história semelhante que envolvia uma moça, que por coincidência era nossa vizinha. Para meu grande espanto a maior revelação estava para vir. Ouvi com os meus ouvidos, estes que a terra há-de comer,o relato de uma rapariga recentemente divorciada, de que quando se dirigiu às instalações da igreja para inscrever a filha na catequese, foi aliciada com o mesmo convite que me havia sido feito, isto passou-se mesmo dentro da igreja, o sagrado templo de Deus! Não tenho dúvidas de que era o mesmo indivíduo. Tenho uma mentalidade aberta, receptiva à mudança e à novidade, não sou pudica, nem nada que se lhe assemelhe, no entanto, tenho em mim uma grande dificuldade, isto é, custa-me imenso suportar a ideia, aliás, a evidência, de que haja pessoas que são capazes de propalar a moral e os bons costumes e depois, pela calada, proceder exactamente conforme o seu contrário!

PVM disse...

É como se costuma dizer: "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço". Se calhar, estas senhoras de muito recomendáveis pergaminhos e de uma moral acima de qualquer suspeita são um antro de "pecados"...