11.3.10

O patine do “jotinha” partidário que amesendou no poder



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Cheguei a isto através de um anúncio a t-shirts satíricas. Muito ao jeito do Inimigo Público – cujo lema é "não aconteceu mas podia ter acontecido" – vê-se a fotografia daquele boy sem curriculum (que não seja o de ter "cartão de sócio" "correcto") que esteve algum tempo no conselho de administração da PT. A fotografia era encimada pelo título de uma notícia (que só poder ser) especulativa e ditirâmbica: "Rui Pedro Soares apontado para Governador do Banco de Portugal.

Da maneira como as coisas andam, quem se espantaria que o bezerro fosse premiado com a sinecura no Banco de Portugal? É que, da maneira como as coisas andam, com a seita socialista acossada por diabólicas figuras que militam na ofensa sistemática, boicotando a iluminada governação em que se esforçam, a seita anda irritada e arrogante.

É só recuar uns meses. Candidatos derrotados nas eleições autárquicas tiveram direito a rifa premiada com supina sinecura no governo. As derrotas amargam. A militância de anos enquista direitos. Em vez de se sentarem no divã do psiquiatra e andarem pelos cantos a carpir lágrimas, candidatos socialistas derrotados foram reabilitados no governo. Faz sentido. Perdem eleições de segunda ordem e ganham lugar num órgão que resulta de eleições de primeira ordem. O tal Soares tem um amigo do peito, um Perestrelo, que perdeu eleições em Oeiras e em compensação caiu-lhe no colo uma secretaria de Estado.

Não digo que as pessoas sejam inibidas das suas ambições. Nem contesto que os adolescentes que entram para uma "jota" partidária – sobretudo se for do bloco central – não tenham grandiosos planos para serem servidores públicos assim que entram no mercado de trabalho. O carreirismo e a dedicação merecem prémios. E o que interessa se a devoção que emprestam ao partido, entaramelada com a excitação própria da juvenil idade, é oportunismo em estado puro? Neste tempo de hedonismo, os idealismos são datados.

Com este Soares, os limites do absurdo foram ultrapassados. É curioso: o Soares da PT só ficou conhecido por um acidente de percurso. Não fossem as escorregadelas do senhor primeiro-ministro, que se confunde com o seu amigo venezuelano nas tentativas de controlo da comunicação social, e este Soares continuaria a açambarcar tão importante cargo imerso no perfeito anonimato. Poucos saberiam que este Soares pertencia ao conselho de administração da PT. E menos se sabia que (pobres) credenciais académicas e profissionais o levaram ao cargo. Lá está, outra vez: os males que vêm por bem. Um sincero agradecimento ao senhor primeiro-ministro mais à sua capacidade para não tolerar que o contrariem. Não fosse esse atributo e hoje a PT continuava a manter uma abécula como administrador. Por outro lado, senti-me reconfortado: o meu curriculum chega e sobra para ser administrador da PT. Só estou à distância de dois pormenores: não ter o "cartão de sócio" correcto e os conhecimentos certos. Pormenores intransponíveis.

Naquela fotografia chamou-me a atenção a pose pedante da personagem. Ali está a posar para a fotografia, com um ar ligeiramente cabotino, típico de quem pensa com os seus botões: "enganei-os bem!", ou "como sou incrivelmente bom!". É a pose habitual daqueles barões da finança que tiram o retrato para a posteridade e ficam na fotografia com o ar blasé tão típico da casta. Com uma diferença que não é irrelevante: este Soares é imberbe e sem credencial alguma. Que a não ganha através da pose que emula a dos barões da finança.

Continuo a perguntar: quando se extirpa o miasma das juventudes partidárias?

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