11.11.08

O engenheiro da duvidosa estética louva Benidorm



Outro engenheiro. Este é engenheiro sem aspas. Há dias informou a comunidade onde estou que um determinado software técnico "nasceu da necessidade de projectar os inúmeros e grandiosos edifícios da fabulosa estância balnear Espanhola que tem por nome Benidorm".


Começo a entender certos abcessos arquitectónicos que enxameiam as cidades. Quem conhece Benidorm e outras estâncias balneares de estilo idêntico sabe que se trata de localidades onde o caos urbanístico é a nota dominante. Só conheço Benidorm de passagem. Num certo ano passava férias a cerca de duzentos quilómetros dessa "fabulosa estância balnear Espanhola (sic) que tem por nome (sic) Benidorm". A pessoa com quem passava férias quis satisfazer a curiosidade: afinal havia tanta gente que passava férias em Benidorm. Lá fomos. Não estivemos lá mais que um par de horas, tal a péssima impressão, posso afirmar sem exagerar, a claustrofobia que senti. Por coincidência ou não, até o almoço foi a pior experiência gastronómica que guardo na memória.


Benidorm é um pesadelo urbanístico. Os "grandiosos edifícios", só se o forem pela altura. O tal engenheiro deve ter um problema com a etimologia das palavras, só pode ser. É que uma coisa grande nem sempre é grandiosa. O que abunda em Benidorm são torres enormes que irrompem pelas alturas. Encavalitam-se umas nas outras, ocupando as vistas. Anda-se nas ruas e tudo o que a vista alcança é a tralha de prédios que trepam pelo céu acima. Tem uma vantagem: naquelas ruas faz sempre sombra, o que no tórrido Verão mediterrânico é muito agradável.


Já sei, já aqui o preconizei, a estética é terreno por excelência da subjectividade. Ainda assim, ao ler aquela assombrosa informação do engenheiro que sempre tive por penhor da duvidosa estética fiquei a entender melhor os abortos urbanísticos que por aí há. O mau gosto da engenharia civil não é exclusivo nacional. Do outro lado da fronteira também fez escola nos ateliers. Deste lado, há quem fique embevecido com os horrores urbanísticos em que se transformaram algumas estâncias de férias mais conhecidas de Espanha. Devem ser os mesmos que têm postais de Armação de Pêra pendurados nas paredes de casa, ajoelhando-se todas as noites, antes de se deitarem, em contemplação da beleza que se salienta daquele medonho emaranhado de edifícios. Ou então confundem os planos e misturam as idílicas memórias de uma, adivinho, lua-de-mel passada em Benidorm, para concluírem que se trata de uma "fabulosa estância balnear".


Será defeito profissional, ou defeito de formação: estes engenheiros cultores da duvidosa estética em loas ao betão armado. No seu sincretismo, os adoradores do betão armado concebem o labirinto de prédios em altura como expoente máximo da sua intervenção na sociedade. Deixam uma marca indelével: assim como assim, as implosões de prédios não acontecem todos os dias. Quando nasce mais uma aberração destas, costuma ficar para todo o sempre. É mais um ingrediente a juntar-se ao tremendo abcesso que são algumas das cidades, sobretudo quando a pressão demográfica e o êxodo dos campos empurra as cidades para fora dos seus limites ancestrais. É então que germinam os arrabaldes que são abjecções urbanísticas, agressões visuais, poluição arquitectónica.


Os engenheiros que as conceberam deixam escola. Engenheiros mais novos são os cultores desta escola que é penhora de uma relapsa anti-estética. É lamentável: os mais novos não são capazes de interiorizar os erros dos antecessores. Em vez disso, insistem no erro. Amplificam-no. São os sabotadores do bem viver nas cidades. Adoram cidades caóticas, caixotes onde se acantonam as pessoas, arrumadas em alcantilados edifícios que se atropelam uns aos outros ao irromperem céu acima. É a orgia do betão armado. A gente que ali vive sitiada só vê betão armado à sua volta. Tenho para mim que os engenheiros que assim conceberam as cidades são potenciais voyeurs da vizinhança. E querem que todos os habitantes do emaranhado de prédios das cidades babilónicas e desordenadas que saem dos seus estiradores alegremente partilhem os interiores das suas casas, das suas vidas, com os vizinhos em redor. Não há melhor expressão de vida em comunidade. Se calhar, estes engenheiros, para além do estigma da estética duvidosa, são cultores do comunitarismo.


Deve ser um diálogo de surdos, este entre os engenheiros penhores da duvidosa estética e os arquitectos.


1 comentário:

Anónimo disse...

em benidorm estasse muito bem em 60% da praia areia fina agua limpizima e vigiada por socorristas, os outro 40% lotada. a noite para quem gosta e formidavel a cidade nao dorme e e tudo de bom a noite