8.12.06

O Porto já tem a sua Lili Caneças



Leitura de casa de banho: publicações de fait divers, muita fotografia e pouco texto. Tanto pode ser a revista da Câmara Municipal do Porto como os boletins publicitários dos hipermercados. Desta vez foi a revista da autarquia. Já tinha reparado, em edições anteriores que não foram direitas para o lixo, que a publicação mistura informação municipal (ou propaganda do edil, conforme a visão) com abundantes páginas coloridas com a extasiante “vida social” da cidade. E foi nestas páginas coloridas que a vista foi agredida por fotografias de uma cara que aparecia constantemente, página sim página sim, qual praga vírica.

Uma pausa para duas palavras de contextualização: quando a revista da Câmara Municipal do Porto passa pelas mãos sou, inadvertidamente, consumidor de imprensa cor-de-rosa. Não exagero se disser que quase metade das páginas põe os munícipes ao corrente dos relevantes aspectos da “vida social” que se passa na cidade. Um banho do resplandecente néon social, para alimentar os sonhos de ascensão social de muitos que se colocam em bicos de pés por uma mísera fotografia que seja na revista mais obscura. Para estes pobres de espírito, será o pináculo de uma vida inteira.

O tal rosto que enxameia sucessivas edições da revista, em páginas repetidas – por vezes aparecendo duas vezes na mesma página! – é de alguém de dá pelo nome de Batata Cerqueira Gomes. A bizarria começa pelo nome. Suspeito que “Batata” seja uma alcunha. Seria educativo elucidar as massas sobre a origem da leguminosa alusão da alcunha. Tarefa para quem escrever a biografia da mediática personagem. O atordoamento começa aqui. Fosse uma anónima criatura, sem os focos da ribalta voltados sobre si, e a leguminosa alcunha levaria o comum dos mortais a um esgar de gozo. Mas a personagem é um ex libris do cortejo de vaidades sociais da cidade, logo “Batata” é “bem” – usando o linguajar a que esta gente está acostumada.

Como estou noutro planeta, desconheço os meandros da emergência social. Nunca tinha ouvido falar em tal pessoa. A ver pela frequência impressionante com que aparece nas páginas da revista da Câmara Municipal do Porto, das três uma: ou é muito amigo de Rui Rio, ou é alguém que deve ter muitos amigos no interessante universo da “vida social” portuense, ou sou eu que vivo deslocado da realidade. Tivesse ainda a revista comigo, iria contar o número de vezes que aquela cara era retratada. De cor, mais de meia dúzia de fotografias. E logo me ocorreu a analogia com o famoso Emplastro, aquele patusco que considera Pinto da Costa como um pai e que se gruda nas costas dos repórteres em directos para os noticiários da televisão, dançando de um lado para o outro para aparecer na imagem. Batata Cerqueira Gomes é o emplastro da revista da Câmara Municipal do Porto.

Um conselho aos aspirantes que anseiam subir na escala da “vida social”: vão às festas mais “in” que o tal Batata marca presença; procurem-no, cirandem a personagem e, quando os fotógrafos aparecerem, deslizem distraidamente para o espaço contíguo. É grande a probabilidade de aparecerem num cantinho da fotografia, para depois mostrarem aos amigos e à família que já são figuras públicas. Se o descaramento vier com a desinibição etílica, tentem fazer-se “amigos” da personagem. Pode ser que vos toque um quinhão do estrelato social, essa coisa tão importante, que preenche a vacuidade mental da turba. Um ícone “social”, à escala regional, deixará a sua marca nos anais da História, com a passadeira estendida pela coorte. Uma espécie de Lili Caneças para consumo regional. Ou apenas a imagem de um provincianismo de braço dado com doses maciças de indigência intelectual. Um vómito.

Já sei o que fazer: quando a revista da Câmara Municipal do Porto chegar a casa, nem sequer lhe dispo o invólucro de plástico. Sem parar nos apeadeiros da vista, destinada a engrossar o sector “papel” do recipiente do lixo reciclável. Ao menos não fico assarapantado com a elevação da “vida social”, nem tomo conhecimento que Batata Cerqueira Gomes embelezou com a sua presença esta, aquela e mais aqueloutra festa.

2 comentários:

dionisio disse...

Cem por cento de acordo. Voçê tirou-me as palavras da boca. Eu já tinha comentado isso com amigos. O pior é virem essas "noticias" na revista de uma câmara municipal, como tal, paga por todos nós.

Descobri por acaso o seu artigo porque andava á procura de uma pessoa. Então fui ao google e perguntei, "quem é a socialite mais conceituada do Porto?". Não encontrei nada. De repente lembrei-me do batata...
Tudo isto porque li sobre o escândalo sexual da maior bicha parasita de Portugal, a castelo branco,em que dizia que quem organizava as orgias e vendas de joias em hoteis de luxo era uma socialite conceituada do Porto...
Agora já sei quem é. Que asco!

Anónimo disse...

Ja nao se aguenta sempre as mesmas personagens nas revistas cor de rosa, e a revista da câmara decididamente é uma revista voltada para a futilidade , esta gente não faz nada que jeito tenha, não são inteligências brilhantes que nos interessa a nós saber a vida deles.
Garimpeiros socias.