15.9.06

E os toureiros descobriram as "dinastias"


Estudei na escola que as dinastias eram coisa de reis, do tempo em que a História era feita de grandes feitos, quando tínhamos a aura da grandiosidade agora enclausurada num curto rectângulo escondido no fim da Europa. Falava-se da dinastia dos Braganças, dos Aviz – como hoje ainda se fazem alusões, Europa fora onde subsistem monarquias, às dinastias dos Habsburgo, dos Grimaldi, dos Bourbon.


Há tempos descobri, outra vez com a ajuda da prestimosa RTP, que as dinastias vão além da realeza. Na tourada há a “dinastia Ribeiro Teles” (ou Telles, com dois “l”, pois as famílias brasonadas distinguem-se da ralé por os seus nomes acrescentarem sempre uma letra à forma corriqueira como são escritos na língua nativa). A televisão que pagamos com os nossos impostos decidiu fazer festa de homenagem à linhagem (preferia chamar-lhe assim) dos toureiros Ribeiro Teles (ou Telles). O anúncio de promoção à grandiosa corrida de touros com a participação do avô, do filho, do neto, do primo Ribeiro Teles (ou Telles) enfatizava uma e outra vez a palavra: dinastia.


Estamos sempre a aprender. É das coisas mais belas que a viagem pela vida nos lega. Estava eu convencido que as dinastias eram prerrogativa da realeza, e eis que afinal há outras dinastias. A etimologia dá uma ajuda preciosa. O dicionário é a muleta necessária. Digito a palavra dinastia e surge a explicação. A palavra oferece dois possíveis significados, dependendo do contexto em que surge. Primeiro significado: “Política, História: série de soberanos pertencentes ao mesmo tronco genealógico”. Segundo significado, o da palavra despida daquele contexto particular: “série de pessoas célebres da mesma família”. O dicionário envia os sinais claros que o anúncio da RTP não era tolo, como ao início pensei. Afinal a dinastia Ribeiro Teles (ou Telles) é mesmo uma dinastia. Presumindo que se trata de “pessoas célebres da mesma família”.


Apesar da ajuda do dicionário, continuo a ver na palavra o seu contexto histórico e político. Daí à imagem apatetada, escondida detrás da pretensa grandiosidade da família Ribeiro Teles (ou Telles), como se todos gostássemos de ser um bocadinho familiares dos Ribeiro Teles (ou Telles). Confesso o meu desconhecimento pela “arte” do toureio. Nunca na vida ouvi falar dos toureiros daquela família. Ribeiro Teles (ou Telles) remete-me para o arquitecto e político que liderou o PPM, e para um advogado que foi dirigente do Sporting. A minha estranheza pelo alarido, com a bênção dos nossos impostos, em redor de uma festança que tem o travo de celebração privada, para um punhado de aficionados das lides tauromáquicas e para os mais chegados ao clã Ribeiro Teles (ou Telles). A RTP deu-se ao trabalho (e não olhou a gastos) para dar dimensão nacional ao evento.


Ficámos a saber que há uma linhagem de Ribeiro Teles (ou Telles) toureiros: o avô, patriarca, ainda monta a cavalo e tem energia para espetar umas bandarilhas, decerto num touro a arrastar forças exangues. Depois vem o filho, já com idade suficiente para apresentar o neto do patriarca. A descendência toda a cavalo na arte deveras corajosa de, lá do alto, munidos de farpas decoradas com papelinhos de cores garridas, maltratarem um animal numa luta entre desiguais.


Se a RTP é serviço público, é de duvidoso gosto patrocinar eventos que dizem muito a um punhado de pessoas e nada à esmagadora maioria dos espectadores e contribuintes que a sustentam. Gostava de ter acesso a estudos de audiências dessa tourada. E de outras touradas. Que fossem disponibilizados estudos que revelam a dimensão do público-alvo da tauromaquia. Para perceber como pode uma televisão pública, mantida também com os nossos impostos, dar privilégios a uma manifestação que apraz minorias. Não é do canal 2 que se fala, esse sim vocacionado para ir ao encontro das muitas minorias que há. A festarola da “dinastia” Ribeiro Teles (ou Telles) teve honras de transmissão no canal 1.


Não é difícil descobrir o contexto. Um poderoso da televisão pública deve nutrir simpatia pessoal pela “dinastia” Ribeiro Teles (ou Telles). Daí ao tapete estendido para uma festa que pôs nos píncaros uma família de toureiros que porventura é muito conhecida em Cascais, um singelo passo. Uma confusão entre a esfera pessoal e o domínio público. Como alguém com poder de decisão na televisão pública contagiou as suas preferências individuais para a programação, sem reflexo nos gostos da maioria dos espectadores.


Não estou a fazer a apologia das decrépitas rivais da RTP, que produzem o mais impensável lixo televisivo por saberem que é disso que o público javardo gosta. Passar de um extremo ao outro, da programação que “o povo gosta” para um programa que revela as preferências pessoais de alguém na RTP, só mostra como a televisão bateu no fundo. Quanto ao mais, à utilização da palavra “dinastia” em associação aos Ribeiro Teles (ou Telles) que maltratam touros, apenas uma sonora gargalhada pelo ridículo.

4 comentários:

Unknown disse...

tem q por um significado menor.

Anónimo disse...

esse é muito grande para escrever =D

Anónimo disse...

Caro Srº "Felino", gostaria de lhe dirigir algumas palavras
"(E os toureiros descobriram as "dinastias" Estudei na escola que as dinastias eram coisa de reis, do tempo em que a História era feita de grandes feitos)", são estas as suas palavras, caro "Felino".
Consultei vários dicionários e em todos eles constatei o seguinte significado para o vocábulo dinastia, apresento-lhe a transcrição do seguinte dicionário : Colecção Completa de Dicionários e Auxiliares de Línguas, Dicionário da Língua Portuguesa - tomo I, Texto Editora, Lda,: "Série de soberanos pertencentes a uma mesma família; por ext. série de homens ilustres da mesma família. Pena tenho que o Srº "Felino" não consulte correctamente um dicionário e não saiba interpretar o significado das palavras correctamente, ou melhor interpreta da forma que lhe é mais favorável.
“ (Confesso o meu desconhecimento pela “arte” do toureio.) ", caro Srº "Felino", como é que se pode comentar, falar, escrever, ter qualquer tipo de opinião se não se têm conhecimento sobre determinado tema, como é que o Srº pode afirmar com toda a certeza e convicção da sua escrita que "(lá do alto, munidos de farpas decoradas com papelinhos de cores garridas, maltratarem um animal numa luta entre desiguais.)" se tivesse o mínimo de conhecimento sobre o que é o Toureio não escrevia este tido de barbaridades. Se não se têm conhecimento é impossível ter opinião verdadeira e imparcial. Eu não posso dizer que não gosto de couves, se nunca comi couves, este exemplo é perfeitamente comum e básico no entanto mostra bem o que pessoas como o Srº dizem e fazem da Tauromaquia. Muito provavelmente nunca viu uma corrida de toiros, nunca esteve perto de um toiro, nunca falou com um toureiro, nem tão pouco com um aficionado, se calhar nunca se deu ao trabalho de ler algum artigo ou algum livro sobre o que é o toureio, desta maneira não se pode criticar!

continua..

Anónimo disse...

continuação

"(Se a RTP é serviço público, é de duvidoso gosto patrocinar eventos que dizem muito a um punhado de pessoas e nada à esmagadora maioria dos espectadores e contribuintes que a sustentam.)"
Acredite caro Srº "Felino" que a maior parte da população Portuguesa é aficionada e como na maioria das vezes não têm possibilidades de se dirigir às corridas de toiros encontram na televisão, e principalmente na televisão pública uma forma de assistirem a um espectáculo que gostam e que lhes desperta grande interesse, por isso afirmo com toda a convicção que as audiências de uma estação televisiva em dia de corrida de toiros são altíssimas.
"(por saberem que é disso que o público javardo gosta.)" Público javardo, então é assim que denomina os aficionados, jarvardos. Segundo o dicionário que citei em cima, jarvado é :Javali; Homem bruto e mal asseado;Diz-se de uma variedade de trigo;Nojento. Acho que numa destas definições encaixa com um afionadcio ou um toureiro. Os homens dos toiros são seres de uma sensibilidade rara, de uma plástica indistinguíveis, de uma personalidade generosa e de uma paixão e entrega enorme que têm pelos animais, porque ao contrário do que se pensa, os homens dos toiros amam os animais e têm por eles um respeito único, por vezes maior do que o respeito que certos seres humanos têm uns pelos outros.
Não obrigo ninguém a gostar de toiros, mas não admito que alguém sem qualquer conhecimento de causa possa dizer barbaridades e idiotices como esta que acabo de ler, dizem que os toureiros não respeitam a sociedade e não respeitam os animais, mas nunca dizem que os Senhores que são contra os toiros desrespeitam os homens dos toiros, pois é isso que acontece, principalmente neste artigo.
O Srº "Felino" desrespeitou os Toureiros e a Tauromaquia e pior que isso pôs em causa o nome de uma Família. Isto não é civismo, muito pelo contrário.
Dou-lhe um conselho, se quiser aceitar claro, leia qualquer coisa sobre toureio, faça uma pesquisa imparcial e depois veja se continua a afirmar que os taurinos são javardos.
Cumprimentos
Maria de Sousa Falcão
ps: outro conselho, cuidado com as fotografias de quem publica, é que às vezes é necessário pedir autorização aos autores ou a quem está na fotografia para a publicar em qualquer sítio, por isso cuidado.