19.9.05

Almeida Santos, Cavaco, Salazar, partidos diabolizados

Não tenho procuração de Cavaco. Nem um grama de simpatia pelo algarvio. E, contudo, ao ouvir as desesperadas palavras de alguns obtusos socialistas que sentem que o patriarca Soares vai encerrar a carreira política com uma derrota, apetece-me votar Cavaco. Asseguro-me, por imperativo de higiene mental, que não o farei. Mas confesso que é grande a tentação ao ouvir as patetices de geriátricas figuras do universo PS.

Desta vez a fava calhou a Almeida Santos – outra “reserva moral” da república, fossem os dizeres socialistas verdades incontestáveis (aprazível imagem no mundo criado na cabeça de Jorge Coelho…). Escolheu a convenção autárquica para dissertar sobre eleições presidenciais. Como é bom de ver, enganou-se no local para afinar a língua sobre a eleição que se encaminha para a derrota. Sem nomear o “inimigo”, num discurso cheio de referências indirectas. Como de costume, verve de tribuno à velha maneira dos republicanos do início do século XX, num anacronismo que cansa. Truques argumentativos de um lado para o outro, para chegar à comparação entre Cavaco e Salazar – porque, para Almeida Santos, ambos depreciam os partidos, essas emanações máximas da democracia.

(Reparei, com interesse, numa omissão – ainda estou para saber se apenas distraída, ou por complacência que muito significado terá – de comentadores e comunicação social em geral. Ninguém disse que Almeida Santos se enganou no fórum para largar a chibata sobre Cavaco. Pois se era verdade que em Coimbra os camaradas cor-de-rosa estavam reunidos para arregimentar fidelidades para as eleições autárquicas, só uma confusão própria de quem raia a esclerose explicará que este “decano do regime” tenha discursado sobre as eleições erradas. Ou então a confusão naquelas cabeças é tão grande que tudo vale. Até – e sobretudo – iludir os pobres eleitores, esses incautos que com tanta facilidade caem na esparrela. Omissões que muito dizem da caridade com que o PS é tratado pela imprensa).

Almeida Santos podia desmascarar Cavaco com um simples gesto. Em vez de fazer a colagem de Cavaco a Salazar – muito conveniente, para esbracejar o fantasma do “fascismo” que une as esquerdas quando há que vasculhar fantasmas no bafiento armário das velharias – bastava lembrar que Cavaco já liderou um partido durante mais de dez anos. E que Cavaco só avança quando tiver a certeza que a máquina laranja está com ele. Isto era suficiente para colar Cavaco ao rótulo de mentiroso oportunista, que se tenta aproveitar do desgaste dos partidos como estratégia que é a rampa de lançamento da sua candidatura.

Almeida Santos preferiu pisar terrenos pantanosos – comparar Cavaco a Salazar, só se for por ambos terem sido professores de finanças. E depois veio em defesa da honra de uma dama ofendida que nunca, mas nunca, pode ser melindrada, ou não caia sob os acusadores o epíteto de anti-democratas. Almeida Santos acha que os partidos são a essência da democracia. Sem eles, esboroam-se os alicerces da democracia.

Esquece-se Almeida Santos que os partidos são responsáveis pela transformação do regime. Uma democracia travestida em partidocracia. E quando enaltece a “salutar vivência democrática” dentro dos partidos, está a enganar apenas os que desconhecem os caciquismos vários em que os partidos são especialistas – tráficos de influências, favores que se pagam mais tarde, contagem de espingardas de concelhias e distritais, “jotas” e estruturas que representam sindicatos, para fazer chegar ao cadeirão do poder ao figurão que, no momento, é o mais conveniente.

Os Almeidas Santos que por aí andam ainda não perceberam que eles são os primeiros responsáveis pelo descrédito do regime. São os algozes de uma democracia desacreditada – e só os que insistem em desvalorizar o significado das elevadas taxas de abstenção é que não percebem isto. Os Almeidas Santos são os velhos do Restelo da partidocracia dominante, a tralha do regime. Pena que as gerações de políticos que estão na linha de sucessão sejam mais do mesmo, mas achas para uma decrépita fogueira em que a desonestidade intelectual (outra vez a comparação entre Cavaco e Salazar como exemplo) é a marca de água da representação dos eleitores que continuam a gostar de ser enganados através do voto.

1 comentário:

Anónimo disse...

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