7.7.05

Optimista desenfreada

Um sorriso desarmante. Uma lição, por ver na vida as coisas belas, mesmo nas mais insignificantes coisas que a vida é capaz de oferecer. É capaz de admirar as pessoas, de ver a bondade que delas irradia. Apetece-lhe conhecer vidas diferentes, sabendo que cada vida que conhece é um livro aberto de onde retira ensinamentos para a sua vida. Aborda os dias com um vibrante optimismo. Acredita que o dia que começa será pródigo em momentos que lhe trazem o reconforto que é saber-se feliz. Num ciclo infindável: no seu optimismo metódico hasteia a indelével esperança que o dia que virá depois traz mistérios que só podem deslumbrantes.

Ciosa do seu bem-estar, recusa o derrotismo. É incapaz de perceber os que se colocam na defensiva perante a existência – a sua própria existência individual, e a dos outros. Deposita a sua fé nas virtudes do ser humano. Sabe que a vida a sós é destituída de sentido. Que o Homem só o é na sua plenitude quando marca encontro com os seus semelhantes, numa vida em comum plena de interacções. É militante das causas que professa. Sempre que pode, agenda estocadas nos ímpetos abúlicos que se acercam. Participa, interessada, no seu entorno. Quer deixar a sua marca, ainda que saiba que por entre uma multidão anónima o que interessa não é o estrelato do legado, mas o legado no que representa para a satisfação interior.

Duvida, por vezes. Aguça o espírito crítico, desafiando o que revê na sua pessoa. Um percurso necessário para se reencontrar quando desventuras a levam a encruzilhadas dilemáticas. Mesmo quando se sente à beira do desnorte, mantém viva a chama do optimismo que nunca deixa de habitar em si. Percebe que o bem-estar não é uma linha contínua, sempre em alta. Aparece interrompida por momentos baixos, que não a deixam sufocar na vertigem do abismo interior. Nesses momentos de devaneio, em que procura reordenar os ponteiros da bússola, fixa com discernimento a divisa que a guia – a clarividência de se manter arreigada à postura optimista, a um espírito positivo que consome a sua vida a eito.

Do alto da sua metódica compostura, desafia a desconfiança alheia mostrando-se confiante nas pessoas que a rodeiam. Acaba mergulhada numa ingenuidade desarmante mas genuína, que conflui em instantâneas amarguras. Encara-as como desafios de crescimento. Ainda que por momentos esteja em crise pela mágoa que se apodera, sabe como retirar o sumo das nuvens negras que a atropelam. Não se deixa definhar numa consumição gratuita; olha em frente, ri-se com as figuras tristes que deixou retratadas no álbum das memórias, aprende com os erros do passado, em tudo consegue ver uma essência positiva e recusa-se derrotada.

O bem-estar interior giza o caminho para a negação de conflitos. Não os conflitos interiores, as perplexidades que a visitam a espaços. Afinal um optimista militante tem mergulhos introspectivos que lançam sementes para o crescimento do ser. O que rejeita são as guerrilhas espúrias. Evita o contacto com as almas conflituosas que se alimentam da força diáfana das relações desavindas com o outro. São estas as pessoas de que foge com convicção, pois exercem uma força negativa que desfere lanças venenosas sobre a sua essência optimista.

Renega as concepções existenciais que renunciam as cores belas espraiadas diante dos nossos olhos. Aos que insistem que o mundo é um local hediondo para se viver, dá como casos perdidos, entregues ao seu destino, ao seu livre arbítrio de mudarem de vida sob pena de morrerem por dentro dos seus espíritos. Não confunde o seu optimismo vivencial com espírito de missionária, que não tem. Convicta de que em nós habita o acto espontâneo de trilhar caminhos percursores do bem-estar interior, afasta-se das influências negativas e aposta tudo, com a força inquebrantável que dela emerge, nas pessoas que partilham o seu genético optimismo.

A esses entrega-se descomprometida, sem espartilhos, ao saber que deles pode beber a inspiração que alimenta a sua maneira de viver apenas entregue às coisas belas que a vida oferece. Procura nelas - pessoas e coisas belas - o oxigénio da existência. Sem o querer, uma invejável lição de vida, um mapa que orienta a forma de jugular a intuição do pessimismo sombrio que insiste em perfilar-se no horizonte.

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