4.3.04

Preservativos subversivos no Zimbabué

Fiquei atónito com uma notícia que ontem escutei na TSF. O governo do tiranete Robert Mugabe lançou um aviso à população. Neste alerta era difundida a informação de que andavam a circular no mercado preservativos com mensagens escondidas apelando à revolta contra o regime ditatorial do presidente Mugabe. A origem destes preservativos seria, ao que consta, os Estados Unidos.

Como é possível alguém se deixar invadir por tanta paranóia e ver em todo o lado a suspeita da conspiração que pode derrubá-lo da cadeira do poder? Nem sei se hei-de catalogar este episódio como uma manifestação de desesperada desinspiração ou, pelo contrário, como o exemplo acabado de uma imaginação delirante que tantos publicitários gostariam de ter com mais frequência. Não é qualquer um que acorda depois de uma noite de sono tormentoso – com pesadelos das sevícias que tem praticado contra as liberdades individuais – e arranja energia para maquinar a delirante suspeita de insubordinação veiculada através de preservativos.

Este acontecimento vem provar como Mugabe está esclerosado. Caiu em desgraça devido aos constantes atropelos às liberdades individuais. Aniquilou a liberdade de expressão e o direito à dissidência de opinião. É useiro e vezeiro em subtrair a propriedade privada de fazendeiros brancos para pagar favores aos militares que estendem a mão desde o tempo da descolonização. Por tudo isto o execrável ditador tem os dias contados. Está ostracizado na Commonwealth, tal é o descrédito que os seus parceiros lhe votam pelos desmandos que não se cansa de cometer.

Um dia ainda acordamos com notícias mais mirabolantes, dando corpo aos fantasmas imaginários que pontuam o íntimo desta atroz personagem. Quem sabe se as próximas ameaças ao seu consulado despótico não virão de esquemas tão sofisticados como mensagens indeléveis que penetram no subconsciente dos cidadãos do Zimbabué através dos rótulos de garrafas de Coca-Cola. Ou se não será o vento que sopra do Atlântico a sussurrar aos ouvidos dos súbditos de Mugabe para se sublevarem contra ele. Não será mesmo de estranhar que as próprias nuvens que anunciam as chuvas das monções tragam hologramas de Bush e de Blair, com mensagens cifradas apelando à revolta. E por aí fora, tudo dependendo da imaginação que Mugabe e os seus lacaios consigam ter para varrer os fantasmas que não os deixam dormir um sono sossegado.

Volto à notícia que me deixou boquiaberto. E ponho-me a pensar como os sectores feministas têm nela terreno fértil para mais uma investida carregada de sexismo às avessas. Elas podem-se indignar contra a estratégia gizada por Mugabe, acusando-o de discriminação. Melhor dizendo: a comprovar-se que as desconfianças macacóides do tirano a prazo vão para além de simples alucinações esquizofrénicas, as feministas podiam verter o seu ódio contra Bush.

A dar-se como provado que nos preservativos se encerram as tais mensagens subversivas, elas terão todo o direito ao protesto e à indignação. Porque motivo, poderão elas perguntar, apenas os homens zimbabueanos são os destinatários desta mensagem de mudança? Porque ficam as mulheres de fora (assumindo que não são elas que usam preservativos...)? O potencial revolucionário resume-se ao sexo masculino? Ou será que Mugabe vê no sexo feminino uma base sólida de apoio ao seu regime, e por isso só está preocupado com o potencial de ataque vindo do sexo masculino – justamente o que manipula os preservativos?

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